Quinta-feira de cinzas

Todo ano é a mesma coisa.
Mesmas músicas
Mesmos blocos
As “novas” bandas de sempre
A velha vontade de não estar aqui.

Mas aí começam a cantar aquelas músicas que de fato dizem alguma coisa.
Chega a ser covardia.
Por alguns instantes eu esqueço o verdadeiro motivo do carnaval existir e acredito no motivo que eles querem que a gente acredite.
Todo mundo acredita tão piamente nessa alegria que ela realmente existe. E exala pelos poros, e transborda no sorriso, e desfila pelas “vias e veias”.
Pouco me importa qual é a música do carnaval deste ano.
As músicas de carnaval, de verdade, não são deste ou daquele ano. Não são eleitas por uma emissora, um júri, nem por meia dúzia de internautas.
Música de carnaval é aquela que você pára no meio da avenida, abre os braços, fecha os olhinhos só pra dizer: “we are carnaval”
Pode se enfeitar de pintor, de deusa, do diaboaquatro. Meu carnaval n precisa disso. Não precisa de corda nem de fórmula.
Meu carnaval só precisa de algo que me mostre que tudo aquilo não foi milimetricamente calculado pra vender abadá e aparecer na band. Meu carnaval precisa de algo que me faça acreditar, mesmo que por alguns mínimos minutos, que existe alma naquela música. Que ela foi feita do arrepio e para o arrepio.
E isso de alma tem sido coisa rara de se ver por essas bandas. É por essas e outras que eu preciso conhecer outros carnavais. Outras alegrias. Outras folias. Outras culturas.
É por essas e outras que eu juro: ano que vem, carnaval é longe daqui.
É por essas e outras que eu digo: minha palavra tem valido menos que colar de Ghandy.