Memórias de letras


Tenho saudades do tempo em que eu desenhava a minha própria escrita. Bordava com delicadeza e pouquíssimo talento artístico, meus cadernos, agendas e dias. Tudo tinha cor por debaixo dos meus dedos e na ponta dos meus hidrocores que vinham naquela maletinha tão desejada com 1.687.261 opções de tons. E nessa época, o mundo também tinha a tinta que eu queria. Eu tinha tempo pra colorir, pra escolher, pra ser. Hoje, minha escrita se contrai, é praticamente abortada entre um sinal vermelho e um horário de almoço. Minha letrinha redondinha, hoje segue a linha dos dias de caos. E, assim como ela, a minha vida também tem se tornado muito pouco legível. Só que hoje, eu me peguei em letras desenhadas, assim, quase sem querer, e percebi que elas ainda estão lá. Hoje, tadinhas, só podem contar com uma bic vermelha de bocal mordido pelas minhas neuras, um papel avesso do que já foi trabalho e um suspiro meu de pura nostalgia. Mas sabe aquelas cores? Elas ainda estão aqui: por baixo de cada vírgula-pausa, refletindo cada traço de delicadeza que ainda sai de mim.

1 comentários:

Felipe Paranhos disse...

A gente devia ter direito a um mês por ano para ser criança.