de tudo que nada temos

Outro dia, roubaram a bolsa dela.

Levaram tudo.

Tudo.

Papéis velhos, enrugados, inúteis.

Maquiagens de uma beleza que não precisa delas.

Esperanças dobradas miudinhas.

Um bolo de notas de uma memória falha.

Dois ou três reais que ocupavam espaço na sua dura realidade.

Tudo levaram.

Deixaram apenas um coração que lembrou de como sabia bater acelerado.

Uma dor de cabeça chamada burocracia.

E... um espaço.

Um espaço amplo, amedrontado pelo não ser mais o que era.

Um espaço novo. Fresco. Arejado.

Havia luz naquele espaço.

Resolveu então, chamar o vazio de oportunidade.

E lotar a oportunidade de novidade.

E a novidade, enfeitar com novos charmes.

Percebeu, contudo, que o que os assaltantes haviam levado 

não era o seu tudo, mas o seu nada.